Sob o signo de Amadeo: Ciclo de Conferências

7, 14, 21 e 28 de Novembro de 2013 às 15h00
CAM – Galeria -1
Org. Joana Cunha Leal e Margarida Medeiros
Este ciclo de conferências resulta de uma co-organização que envolve o Instituto de História da Arte (IHA), o Centro de Estudos de Comunicação e Linguagem (CECL) e o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.
A iniciativa parte da ênfase que será dada à obra de Amadeo de Souza-Cardoso na montagem da coleção do CAM em Julho de 2013 (por ocasião do seu 30º aniversário) e visa abrir e debater uma série de tópicos sobre o modernismo e a obra de Amadeo. O título geral do Ciclo de Conferências retoma por isso o da própria exposição – Sob o Signo de Amadeo – criando uma oportunidade para, a partir da presença da obra de Amadeo, colocar várias questões relacionadas com a arte do pré-Guerra e da Guerra em discussão. Assim, para além de um debate mais geral sobre o modernismo, outros assuntos-chave a discutir neste ciclo de conferências serão: o impacto da Primeira Guerra Mundial, o lugar da representação no modernismo, os usos da fotografia, a relação com a poesia, a literatura e a filosofia.
A insistência na importância da observação direta e demorada das obras, por um lado, e o desejo de abrir o debate sobre a obra de Amadeo a problemas transversais ao pensamento e à produção artística do seu tempo, por outro, são as ambições que fundamentam o desenho deste ciclo de conferências. As contribuições e os debates decorrerão por isso no espaço do CAM, seguindo um formato: duas comunicações de 30 minutos apresentadas por um moderador que terá a responsabilidade de conduzir o debate final (30 minutos) aberto à participação do público.

 

PROGRAMA:
FOTOGRAFIA
7 NOVEMBRO / 1ª Sessão
Jorge Ribalta (Museo Reina Sofia, Espanha) – The Strand symptom. A Modernist disease.
Esta comunicação procura compensar a leitura hiper-formalista do trabalho fotográfico de Paul Strand. Em vez de celebrar e monumentalizar Strand como o pai-fundador do modernismo fotográfico americano, propõe um olhar sobre o seu trabalho enquanto sintoma de um problema estrutural ou maladie no seio do modernismo. Refiro-me a uma espécie de esquizofrenia implícita no facto de um dos mais radicais formalistas da história da fotografia modernista se ter transformado num revolucionário comunista radical nos anos 1930 tendo o seu trabalho permanecido literalmente o mesmo. Centrando-me nos trabalhos da década de 30 e, em torno da Photo League, analisarei esta maladie e a facto de permanecer insuficientemente historiografada. Pergunto: será que ainda podemos aceitar as histórias do modernismo formalista da Guerra Fria e a despolitização da década de 1930 feita nos anos 1970 e 1980?
Blake Stimson (University of Illinois, E.U.A.) – Photographic Communism
Diz-se por vezes que a Fotografia tem uma função ‘profética’ tendo em conta que ela antevê (ou mesmo ajuda a produzir) cisões futuras, quando evidencia sintomas de ansiedade pessoal, social ou política. Esta comunicação considera a sua capacidade oposta, sublinhando o modo como a fotografia profetiza e anuncia uniões futuras. Analisando o trabalho fotográfico de meados do século XX – como o de Paul Strand –, frequentemente classificado com a confortável etiqueta de “socialismo romântico”, no seio dos recentes debates em torno do fenómeno de “comunização”, esta comunicação toma os esforços proféticos, imaginativos da fotográfica como prolongando e desenvolvendo a noção moderna, plena e distintiva, de causa comum nascida no Iluminismo. Assim sendo, a viabilidade crítica da fotografia será avaliada não apenas pela capacidade da fotografia para revelar os aspetos imaginários de uma determinada forma de identidade e pertença coletiva, mas também pela sua capacidade para trabalhar criticamente essa identificação e essa pertença
Moderadora: Margarida Medeiros (CECL)

MODERNISMO E VANGUARDAS
14 NOVEMBRO / 2ª Sessão
Annika Öhrner (Södertörn University, Suécia) – Nordic artists and some early avant-garde spaces
Esta conferência explora aspetos da formação da vanguarda na Europa nos anos que antecedem a Primeira Guerra Mundial a partir de uma perspetiva nórdica. A pintura de artistas como Siri Derkert, Sigdrid Hjerténm Ivan Lönnberg e Nils von Dardel, assim como documentos e fotografias de arquivo, são analisados de modo a detetar espaços sociais exteriores ao canon modernista. Nas narrativas da história da arte, Paris surge frequentemente como o centro singular e monolítico do modernismo. Contudo, os espaços da vanguarda não se reduzem a Paris nem a um só Paris. Pelo contrário, este período da história europeia conheceu múltiplos micro espaços de ação da vanguarda.
Maria Helena de Freitas (Fundação Calouste Gulbenkian) – O Infortúnio crítico de Amadeo de Souza-Cardoso
Se tomarmos a fortuna crítica de Amadeo no seu todo, é visível para além da sua vastíssima dimensão, um processo claramente descontínuo, em que o artista aparece e desaparece ao ritmo irregular dos episódios expositivos que se vão sucedendo, com uma fraca assimilação interpretativa. Ao longo dos anos, Amadeo é fonte de surpresa e assombro para gerações sucessivas. A história da recepção crítica à sua obra é, até muito tarde, irremediavelmente tarde para muitos, a história de um eterno recomeço.
Moderadora: Maria Teresa Cruz (CECL)

GUERRA
21 NOVEMBRO / 3ª Sessão
Patricia Leighten (Duke University, E.U.A.) – Modernism, Antimilitarism and War
Pensar o modernismo e a guerra não apenas permite uma leitura diferente do contexto do modernismo como nos conduz também à crítica de um modelo dominante do modernismo assente na noção de ‘autonomia’, um termo central à critica da arte marxista de finais da década de 1930 e ainda em uso. Esta conferência opõe-se a este discurso, re-equacionando a obra de artistas fundamentais do modernismo, como Maurice de Vlaminck, Pablo Picasso, Juan Gris, entre outros. Estes artistas criaram arte abstrata concebendo-a não como uma meditação auto-reflexiva neo-kantiana sobre os materiais, mas como uma prática estética ativista baseada numa subjetividade radical associada ao anti-militarismo de filiação anarquista que praticavam. Analisar a razão da posição central que o anarquismo alcança no desenvolvimento da abstração de inícios do século XX conduz à necessidade de reconsiderar o modernismo sob uma nova perspetiva histórica e teórica.
Joana Cunha Leal (IHA – FCSH/UNL) – Amadeo e a Guerra
No seguimento do trabalho que venho desenvolvendo desde 2010, esta comunicação discute as obras finais de Amadeo Souza Cardoso a partir da sua recorrente incorporação de referencias contextuais à 1ª Guerra Mundial. Esta questão permitirá abrir um debate mais vasto sobre o lugar da representação na história do modernismo e questionar as narrativas historiográficas sustentadas em concepções essencialistas e na crença de que a abstracção foi o destino necessário da pintura.
Moderadora: Mariana Pinto dos Santos (IHA)

FILOSOFIA
28 NOVEMBRO / 4ª Sessão
Mark Antliff (Duke University, E.U.A.) – Henri Bergson and the Parisian Avant-Garde: Subjectivity and the Road to Abstraction
Antes de 1914 o filósofo francês Henri Bergson teve um profundo impacto na vanguarda europeia, especialmente nos pintores Albert Gleizes e Jean Metzinger, autores da primeira síntese histórica do movimento cubista, Du ‘Cubisme’ (1912). Este manifesto, que proclamou as inovações estéticas do cubismo como expressão de uma nova forma de realismo, foi rapidamente traduzido para inglês e russo, tornando-se o guia para artistas de todo o mundo que procuravam mergulhar nos mistérios da estética cubista. Analisando a teoria da subjetividade desenvolvida nesse texto e a sua relação com o tratamento dado pelos cubistas ao espaço, à temporalidade, ao ritmo e à cor, demonstrarei como o pensamento de Bergson conduziu estes artistas à fronteira da abstração, definida em Du ‘Cubisme’ como uma forma de ‘efusão pura’ e ‘liberdade ilimitada’, sem precedente na história da arte.
Maria Filomena Molder (IFL – FCSH/UNL) – Arte e pessimismo (a partir da cópia e ilustração de La légende de Saint-Julien l’hospitalier de Flaubert por Amadeo)
Moderador: Nuno Crespo (IHA)

CONFERENCISTAS
Jorge Ribalta é artista, escritor, editor e curador independente. Entre as exposições de que foi curador destacam-se Universal Archive. The condition of the document and the modern photographic utopia, (MACBA, Barcelona 2008 e Museu Berardo, Lisboa, 2009) e A Hard, Merciless Light. The Worker-Photography Movement, 1926-1939 (Museu Reina Sofia, Madrid, 2011). Entre os livros editados: Public Photographic Spaces. Propaganda Exhibitions from Pressa to Family of Man, 1928-1955 (MACBA, 2009) e The Worker Photography Movement, 1926-1939. Essays and Documents (Museu Reina Sofia, Madrid, 2011). Dirigiu os programas públicos do Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA) entre 1999 e 2009.
Blake Stimson ensina arte contemporânea, história da fotografia e teoria crítica na Universidade do Illinois, Chicago. Tem escrito artigos para a Artforum, October, Texte zur Kunst, Oxford Art Journal, Third Text, e New Left Review, entre outras publicações, e o seu trabalho tem sido traduzido em numerosas línguas. Os livros recentes incluem The Pivot of the World: Photography and Its Nation(MIT, 2006), Collectivism after Modernism: The Art of Social Imagination after 1945 (co-edited with Gregory Sholette, Minnesota, 2007), Institutional Critique: An Anthology of Artists’ Writings (co-edited with Alexander Alberro, MIT, 2009), e Citizen Warhol (a publicar na Reaktion).
Annika Öhrner é Conferencista Senior em História da Arte na Universidade Södertörn, Estocolmo, Suécia. A sua dissertação de doutoramento, Barbro Östlihn and New York. Art’s space and possibilities, foi publicada em 2010. Foi curadora de diversas exposições sobre modernismo e arte contemporânea, incluindo a grande retrospetiva de Siri Derkert no Moderna Museet (Estocolmo). Publicou artigos em catálogos de exposições e periódicos de arte, tanto na Suécia como internacionalmente. Foi reitora da Escola de Belas-Artes Valand, na Universidade de Gotemburgo.
Helena de Freitas nasceu em Lisboa em 1958, onde vive e trabalha. Trabalhou no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian, de 1988 a 2010 onde foi curadora de numerosas exposições de artistas portugueses e autora de livros e ensaios no âmbito da História de Arte. Coordenadora do Catálogo Raisonnée de Amadeo de Souza-Cardoso, publicado em 2007, e de várias acções em torno deste artista, nomeadamente a exposição Diálogo de Vanguardas, Fundação Calouste Gulbenkian, 2006-2007. Foi Directora da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, entre 2010 e 2013. Atualmente trabalha no Museu Gulbenkian – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Patricia Leighten é Professora de História da Arte na Duke University (Durham, USA), é autora de Re-Ordering the Universe: Picasso and Anarchism e co-autora de A Cubism Reader e Cubism and Culture. Acaba de publicar o seu novo livro,The Liberation of Painting: Modernism and Anarchism in Avant-Guerre Paris.
Joana Cunha Leal é professora auxiliar no Departamento de História da Arte da FCSH – Universidade Nova de Lisboa. É investigadora integrada do Instituto de História da Arte da mesma Universidade, onde coordena o grupo de investigação em Teoria da Arte. Entre os seus trabalhos mais recentes conta-se a co-edição da Revista de História da Arte N.10 – Práticas da Teoria e a publicação de vários artigos sobre a obra de Amadeo Souza Cardoso.
Mark Antliff é Professor de História da Arte na Duke University (Durham, USA), Mark Antliff é autor de diversos livros, entre os quais Inventing Bergson: Cultural Politics and the Parisian Avant-GardeAvant-Garde Fascism: The Mobilization of Myth, Art and Culture in France; mais recentemente, editou a antologiaVorticism: New Perspectives (2013). Está atualmente a concluir um estudo sobre escultura moderna, intitulado Sculpture Against the State: Anarchism and the Cosmopolitan Avant-Garde in London and Paris, 1910-1914.

Fonte: http://www.cam.gulbenkian.pt/index.php?article=71790&visual=2&langId=1