Nos dias 24 e 25 de Maio de 2018 teve lugar, no Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), Porto, o encontro Caixas de tesouros. Congresso Internacional sobre o museu ecléctico. Organizado pelo Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHA-FCSH/NOVA)/Linha de investigação Estudos de Museus e pelo MNSR, e com o apoio do Círculo Dr. José de Figueiredo, Amigos do MNSR, a iniciativa assinalou os 170 anos da morte de João Allen (1781- 1848), e os 180 da criação do seu Museu Allen, no Porto.
Aberto ao público em 1838, o Museu Allen, com uma colecção de carácter ecléctico que, em 1937, integrou o MNSR, foi o primeiro museu português dotado de edifício próprio, criado de raiz para funções museológicas. Esta decisão é tanto mais notável quanto antecedeu a equivalente do Estado em mais de cem anos (1940, Museu Malhoa, Caldas da Rainha, risco do arquitecto Paulino Montês).
Com o objectivo de tomar o pulso aos estudos desenvolvidos sobre instituições museais congéneres ao Museu Allen, o congresso propôs um arco cronológico de Setecentos até meados de Oitocentos, época por excelência do museu ecléctico, avaliando permanências e pertinências deste modelo museológico que prossegue nos séculos XX-XXI.
Desejando estabelecer relações com instituições congéneres coevas internacionais, no sentido de posicionar o referido marco na história dos museus portugueses numa perspectiva comparatista, o Congresso foi estruturado em três secções temáticas: Enciclopedismo/Ecletismo; Coleccionadores e colecções; e Museologia. Com dois conferencistas convidados (Raquel Henriques da Silva e Terry van Druten), reuniu 16 outros proponentes (ver programa), oriundos de diversas universidades e museus de Portugal, Brasil, EUA e Holanda.
Oferecendo perspectivas multidisciplinares, o Congresso possibilitou a divulgação e cotejo de investigações recentes sobre colecções e coleccionadores eclécticos, das artes e arqueologia à botânica, num contexto internacional, problematizando os seus programas e revelando as suas histórias, do ponto de vista biográfico, temático e institucional, tomando pulso ao trabalho realizado ou em curso e proporcionando a criação de novas redes de contacto que facultarão o cruzamento de dados científicos, potenciadores de novas investigações.
De sublinhar as actividades paralelas oferecidas aos conferencistas pelo MNSR. Além do visionamento de um pequeno documentário sobre Villar d’Allen, morada do coleccionador, actualmente ainda na posse da família, e comentado pelo trineto de João Allen, José Alberto Allen, o MNSR e a Associação António Fragoso ofereceram ainda um recital de oboé e piano, pelas instrumentistas norte-americanas Courtney Miller e Rène Lecuona.
É também de destacar a organização, a pretexto da memória e legado de João Allen, componente fundamental da herança artística e museológica do Porto, de uma exposição evocadora do papel do coleccionador e das colecções na história deste museu nacional. Sendo os conferencistas maioritariamente investigadores, docentes universitários e profissionais de museus, a visita à exposição em preparação (a inaugurar dia 21 de Junho de 2018), orientada pelos curadores e por descendentes de João Allen, emprestadores de vários objectos de estudo para a mostra, constituiu um momento de particular interesse para todos.
Complementando o Congresso e a conferência de Raquel Henriques da Silva sobre a Casa-Museu Fernando de Castro, administrativamente dependente do MNSR, foi ainda oferecida aos participantes a possibilidade de visita orientada à antiga residência deste coleccionador ecléctico novecentista.
Terminado o Congresso, a publicação de uma selecção de comunicações, com dupla arbitragem cega, irá agora ser organizada. Informação a propósito será facultada no site do congresso (https://caixasdetesouroscongresso2018.weebly.com) e na página de facebook (https://www.facebook.com/caixasdetesouros/).