ARTISTS’ LEGACIES. Preservation, Study, Dissemination, Institutionalisation
14 – 15 maio 2020
Lisboa, Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva
Cuidar de legados artísticos, em todas as vertentes que essa ação implica, é uma atividade de grande responsabilidade, de que podem fazer parte vários intervenientes. Os próprios artistas, os seus herdeiros ou representantes legais, as galerias, os museus, as fundações ou as instituições académicas, são os principais elementos promotores de ações de preservação, estudo, divulgação e gestão de espólios artísticos e documentais, através dos quais é possível traçar de modo sistemático o percurso e carreira de determinado artista.
A gestão de espólios de artistas passa muitas vezes por soluções de institucionalização (pública ou privada), que podem adquirir várias formas: depósito do espólio dito “documental” em bibliotecas e arquivos públicos; musealização dos espaços vivenciais do artista; a aquisição por ou doação a, ou o depósito do espólio (integral, parcial ou residual) em museus de arte, fundações ou em centros de documentação já existentes; criação, a partir de espólio (integral, parcial ou residual), de fundações de artistas, centros de arte e/ou museus monográficos; divulgação dos acervos em museus ou arquivos virtuais.
O desafio de salvaguardar estes legados e, muitas vezes, de impulsionar a sua institucionalização (pública ou privada) e disponibilização ao público, é uma tarefa complexa e nem sempre fácil de gerir – seja física, material, ou até emocionalmente. Nos últimos anos, este tema tem vindo a ser debatido no seio de organismos internacionais, como o The Institute for Artists’ Estates (Alemanha), a Joan Mitchell Foundation/programa CALL (Creating a Living Legacy) (EUA), ou o Swiss Institute for Art Research (SIK-ISEA) (Suíça) – que, através dos seus projetos, têm problematizado alguns dos elementos relacionados com a gestão de legados artísticos: a mediação com os artistas ou os seus representantes; as especificidades jurídicas nos processos de receção e institucionalização de obras de arte e documentos; a sua catalogação e arquivamento; a elaboração de catálogos raisonnés; as estratégias de estudo e disseminação necessárias para que esses legados se mantenham vivos (ações académicas e curatoriais). Em Portugal, os questionamentos relativos a este tema fazem-se principalmente nos contextos de trabalho de instituições que, no seu dia-a-dia, e de modos muito diversos, têm a responsabilidade de gerir legados artísticos – entre os numerosos exemplos possíveis, refiram-se a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, o Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC ou os recentes projetos de investigação BAC – Banco de Arte Contemporânea e Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais.
A par das problemáticas acima enunciadas, o debate em torno dos legados de artistas cruza-se com questões de âmbito mais alargado que têm vindo a ser alvo de reflexão nas áreas dos estudos artísticos e culturais. Por exemplo:
– De que modo o posicionamento ativo dos artistas no planeamento do futuro do seu espólio, para além das preocupações de ordem pessoal, tem como enquadramento contemporâneo os movimentos de autodeterminação do artista nos processos de significação da própria obra e dos seus contextos de exibição (até aos paradigmas recentes do artist-as-curator e artist-as-archivist)?
– Os processos de salvaguarda de legados de artistas constituem estímulos às dinâmicas de mercado – por exemplo, através da valorização de artistas e obras anteriormente colocados à margem dos principais circuitos comerciais e, por isso, afastados da atenção dos agentes artísticos (museus, galerias, crítica). De que modo estas relações se processam, e se relacionam com o desenvolvimento de novas discursividades críticas em torno de obras, períodos e geografias? Contribuirão estas movimentações para uma revisão e reequacionamento historiográfico, em maior ou menor escala?
Chamada para comunicações
Convidamos a comunidade académica e científica, bem como artistas e profissionais de fundações de artistas, museus e galerias, a apresentar propostas de comunicação relativas a este tema. O objetivo é partilhar reflexão relacionada com os processos de gestão ativa de legados de artistas, nas suas múltiplas valências, desde o início do século XX aos nossos dias.
As comunicações podem abordar os seguintes tópicos, ainda que não sejam limitadas por eles:
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Como querem os artistas serem recordados? Os artistas e a gestão do seu legado – das intenções à prática. O artista, os seus herdeiros / representantes legais, e as instituições: colaborações, tensões. O posicionamento ativo dos artistas no planeamento do futuro do seu espólio e nos processos de significação da própria obra e dos seus contextos de exibição (artist-as-curator e artist-as-archivist).
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Processos de institucionalização: museus, fundações, arquivos de artistas. O papel das instituições na preservação, estudo e disseminação de legados de artistas. Os desafios e estratégias na gestão dos legados artísticos e na sua mediação com o público.
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Legados de artista, história e crítica de arte. Os processos de salvaguarda de legados de artistas e o desenvolvimento de novas discursividades críticas em torno de obras, períodos e geografias / novos processos de revisão e reequacionamento historiográfico.
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Centros de Documentação, Arquivos, Catálogos Raisonné. Os desafios e possibilidades da era digital nos processos de registo e disponibilização da informação. Documentação e conhecimento: autenticação, exposição, remontagem de obras.
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Aspetos legais e jurídicos. Que tipo de enquadramento jurídico é adequado a estes espólios? Que deveres e responsabilidades cabem às instituições e aos representantes legais? Devem os seus representantes legais interferir – até que ponto? – no estudo e divulgação destes espólios?
Instruções de submissão
As propostas, em português ou inglês, e contendo no máximo 500 palavras, deverão ser estruturadas para uma comunicação de 20 minutos. Devem ser acompanhadas por uma curta biografia do(s) autor(es) (máx. 150 palavras), incluindo a sua afiliação institucional e informações de contacto.
As propostas devem ser enviadas para o endereço eletrónico:
artistslegacies2020@gmail.com
Datas importantes
Prazo para submissão de resumos: 30 novembro 2019
Data de notificação aos autores: 31 janeiro 2020
Inscrição: 1 março – 30 abril 2020
Prazo para submissão do artigo: abril 2020
Comité Científico
Joana Baião (IHA/FCSH/NOVA; LAM-GM/IPB)
Marina Bairrão Ruivo (FASVS)
Raquel Henriques da Silva (IHA, FCSH/NOVA)
Sandra Santos (FASVS)
Sara Antónia Matos (Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC; projeto BAC)
Scarlett Reliquet (Musée d’Orsay, Paris)
VERSÃO COMPLETA:
Call for Papers – Legados de Artistas [PT]
Call for Papers – Artists Legacies [EN]