
© Museo Nacional del Prado, Madrid
O IHA lamenta profundamente a morte de Jonathan Brown (1939-2022), Carroll and Milton Petrie Professor of Fine Arts no Institute of Fine Arts da New York University. Ao longo de uma extensa e profícua carreira, Jonathan Brown foi um paladino das artes em Espanha na Idade Moderna a que, nas últimas décadas, acrescentou o estudo da pintura nos vice-reinos espanhóis na América, sobretudo o México. Através de uma escrita clara, precisa e elegante, Brown convenceu o mundo daquilo que parecia não carecer de demonstração: que a pintura do Século de Ouro espanhol tem um lugar cimeiro na história das artes na Europa. Quando a Yale University Press reeditou os manuais clássicos da Penguin só lhes acrescentou um novo, Painting in Spain, 1500-1700 (1991), cuja responsabilidade entregou a Brown.
Através de vários outros livros e artigos, exposições e seus catálogos, Jonathan Brown foi trazendo para posições maiores do palco internacional nomes como os de El Greco, Velázquez, Zurbarán, Ribera ou Murillo. Paralelamente, foi sempre sensível às questões da encomenda, do colecionismo, da recepção, matérias em que se destacam A Palace for a King (1980), escrito em parceria com o historiador John Elliot, Kings and Connoisseurs (1995) e The Sale of the Century (2002).
Tendo trabalhado uma vida inteira sobre Espanha, Brown reinventou-se, a partir dos anos 90, para se dedicar ao mundo hispano-americano. Para além dos textos que escreveu, o seu prestígio foi fundamental para abrir as portas tanto do Museu do Prado como do Metropolitan Museum of Art, do Institute of Fine Arts como da Universidade Complutense, entre outros, a estes novos territórios de investigação a que até então as mais veneráveis instituições tinham prestado pouca atenção. Painting in Latin America, 1550-1829 (2015), co-editado com Luisa Elena Alcalá (Universidade Autónoma de Madrid) é – e permanecerá, certamente – a referência maior dessa sua segunda paixão. Com os demais títulos citados, e outros, constitui leitura obrigatória em escolas do mundo inteiro.
Para lá das exposições e dos textos, a vida de Jonathan Brown comportou ainda uma dimensão pedagógica que os seus mais próximos colegas e alunos conheceram. Brown era professor em Princeton (1965-73) quando o Institute of Fine Arts o recrutou para seu director (1973-78), no ano mesmo em que começou a primeira grande crise petrolífera. Revelou-se então a dimensão institucional que o acompanhou até à jubilação, em 2017, tendo sido, ao longo de 40 anos, a voz do equilíbrio, da ponderação, do respeito por colegas e alunos, e das soluções pragmáticas: “Gosto mais de fazer do que de falar sobre fazer”, disse-me uma vez.
Nos seus alunos terá deixado, porventura, a marca mais profunda. Propunha leituras e imagens cuidadosamente escolhidas e encadeadas, e na sala de aula reduzia-se ao papel do moderador cujas intervenções conduziam (mais do que sugeriam) os seus alunos às questões e conclusões relevantes, até para o contrariar, se assim se justificasse. Fora dela, era um mentor (mais do que um orientador) generoso, sempre disponível, ensinando pelo exemplo da sua própria prática, mais do que pela prédica, e sempre envolvendo os alunos na construção do projecto colectivo que uma escola deve ser. Com ele os seus alunos aprenderam muito mais do que História da Arte.
Se o ensino da pintura espanhola tem algum futuro fora de Espanha, a ele, ao seu trabalho de investigação e ao seu magistério, em boa medida o deve. Jonathan Brown era um príncipe, e assim será lembrado por todos os que tiveram o privilégio do seu convívio.
Nuno Senos
pel’A Direção do IHA