Intervenções de arte pública: da catalogação ao museu virtual – study-case Graça Morais

Painel Rua Marquês de Pombal

Graça Morais, Sem título, 2001-2003. Painel de azulejos no viaduto e muros da ligação Rinchoa – Rio de Mouro / Muro da Estrada Marquês de Pombal, Rio de Mouro, Sintra. Produzido por Ratton / Viúva Lamego Fábrica Cerâmica.

 

Data de início: 01 de outubro de 2020
Data de fim: 31 de março de 2021
Financiamento: Instituto de História da Arte, NOVA FCSH
 
Enquadramento geral
Resultante de mais de quarenta anos de ininterrupta atividade, a obra de Graça Morais (n. 1948) caracteriza-se pela permanente observação do ser humano e da sua condição no mundo. Num plano mais próximo ao das suas vivências pessoais, destaca-se a sua abordagem desassombrada ao universo feminino e o registo atento de usos, práticas, ritos e costumes ligados ao território transmontano. Do mesmo modo, temas mais abrangentes como a religião, o sexo, o envelhecimento, a violência, a solidão, o exílio ou a guerra, habitam o universo plástico desta artista, refletindo o seu olhar atento e sensível sobre tudo o que a rodeia. O seu trabalho encontra-se integrado em várias coleções públicas e privadas, e pode ser visto permanentemente no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM), em Bragança. Ademais, a artista é autora de diversas intervenções em espaços públicos, em Portugal e no estrangeiro.
Atualmente, a obra pictórica de Graça Morais encontra-se a ser alvo de um inventário sistemático, com vista à elaboração de um Catálogo Raisonné. Simultaneamente, decorre o levantamento exaustivo de informação e documentos relativos à atividade da pintora, que serão integrados no Centro de Documentação Graça Morais e que serão disponibilizados de forma permanente e em livre acesso ao público, através de plataformas digitais e outras soluções de disseminação e de comunicação com a sociedade. A realização do Catálogo Raisonné Graça Morais e a constituição do Centro de Documentação encontram-se enquadrados na atividade do LAM-GM, projeto para a prática e investigação na área das Artes integrado no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), com parceria estrutural com o CACGM, tutelado pelo Município de Bragança, e com o IHA.
O seed-project «Intervenções de arte pública: da catalogação ao museu virtual – study-case Graça Morais» visa reforçar as componentes de investigação e de disseminação de resultados, tendo como enfoque os desafios conceptuais e práticos contemporâneos relacionados com a catalogação e documentação de arte pública ou intervenções artísticas em espaços arquitetónicos, e sua comunicação ao público.

 

Objetivos
A maioria do trabalho de Graça Morais enquadra-se nas categorias de pintura e obra gráfica (desenho). Contudo, a artista é igualmente autora de vários painéis de azulejos, situados em diversos locais, que podem ser categorizados no domínio da arte pública ou integrada em arquitetura. Os objetivos deste projeto prendem-se com o processo de catalogação, documentação e disseminação desses trabalhos:
– Catalogação – normalização de procedimentos de catalogação / inventariação de arte pública ou integrada em arquitetura. Partindo das metodologias de inventário de áreas artísticas que já se encontram tendencialmente padronizadas, bem como da análise aos procedimentos já seguidos em catálogos, guias e roteiros de arte pública, nacionais e internacionais, divulgados em versão impressa ou digitalmente, pretende-se estabelecer uma ficha-padrão para a catalogação de arte pública ou integrada em arquitetura.
– Documentação – seleção e disponibilização. A investigação e recolha documental relacionada com a obra pública ou integrada em arquitetura implica uma necessária reflexão, que é extensível a vários projetos de inventariação artística, sobre os critérios de seleção de documentação associada a uma obra de arte. No campo deste debate, pretende-se igualmente refletir acerca dos potenciais de ligação entre dados que nos são proporcionados pelas plataformas digitais de inventário e arquivo: que relações podem ser estabelecidas entre as obras de arte e a documentação associada, e como concretizá-las no ato de comunicação com o público?
– Disseminação – da inventariação ao museu virtual. Na era das tecnologias digitais, um dos resultados da inventariação sistemática de objetos, sejam eles artísticos ou outros, tem como consequência a disponibilização online de Catálogos Raisonnés e a criação de roteiros ou museus virtuais. Será objetivo deste projeto refletir e dar os primeiros passos para a construção de um museu virtual de arte pública ou integrada em arquitetura, centrado não apenas no elenco de objetos, com as informações básicas que normalmente lhes são associadas, mas que proporcione ao visitante a possibilidade de contactar com elementos adicionais que contribuam para o aprofundamento da análise das obras, seu enquadramento no percurso dos artistas, seu enquadramento no panorama artístico nacional e internacional, etc. Ou seja, o museu virtual não como um mero catálogo de objetos ou roteiro (embora também com essas valências), mas como organismo que responde verdadeiramente à missão “museológica” que lhe é prevista – um organismo “ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”, conforme a definição atualmente proposta pelo International Council of Museums (ICOM).

 

Outputs
A execução deste micro-projeto permitirá estreitar as relações já protocoladas entre o IHA/NOVA FCSH e o LAM-GM/IPB, quer no que diz respeito às atividades de promoção da investigação científica, quer no que concerne à disseminação de resultados que, cada vez mais, devem ter um impacto efetivo na sociedade. Os resultados a curto / médio prazo serão:
  • criação e preenchimento da secção “Obra Pública” no Catálogo Raisonné Graça Morais, que está em curso e que será disponibilizado em acesso aberto, fornecendo à comunidade científica e não especializada informação sobre obras de arte e documentação inédita.
  • estabelecimento das bases para a criação de um museu virtual de arte pública / arte integrada em arquitetura – da reflexão gerada, prevê-se a publicação de um paper, inserindo-se assim o projeto nos recentes debates que este tema tem suscitado nos campos da História da Arte e da Museologia.
  • realização de uma dissertação ou projeto de Mestrado, que terá como base a informação decorrente das pesquisas realizadas, e que será institucionalmente enquadrado na NOVA FCSH e/ou no IPB.
A médio / longo prazo, o natural resultado deste seed project será a criação de um museu virtual da obra pública de Graça Morais, sediado no LAM-GM, e que deverá depois expandir-se a outros artistas, transformando-se então num projeto mais alargado, integrando novos parceiros e passível de ser submetido a candidaturas nacionais ou internacionais para captação de financiamento. A criação e expansão deste museu virtual apresenta enormes potencialidades, quer ao nível do estímulo à investigação em áreas relacionadas com a História da Arte e Património Cultural, quer no que concerne ao impacto societal, como por exemplo: criação de rotas artísticas e integração em redes de turismo cultural, locais ou nacionais; estabelecimento de parcerias e protocolos de colaboração com entidades públicas e privadas que estejam a desenvolver projetos semelhantes, de modo a otimizar os recursos e plataformas de investigação e de disseminação; expansão internacional: por exemplo, incluindo o mapeamento de projetos de arte pública de artistas portugueses no estrangeiro, em colaboração com investigadores e instituições de vários países.

 

Equipa
Joana Baião (IHA-NOVA FCSH; LAM-GM, CIMO, IPB) – Investigadora Responsável
António Meireles (ESSE-IPB; LAM-GM, IPB) – Representante da instituição parceira
Sofia Carvalho – Bolseira de Investigação

São também colaboradores ativos todos os elementos ligados ao funcionamento do Laboratório de Artes na Montanha-Graça Morais, nomeadamente a própria pintora Graça Morais, que garante o acesso ao seu acervo para investigação e se disponibiliza para ceder informações adicionais sempre que necessário, a equipa do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, da Câmara Municipal de Bragança, bem como as equipas técnicas responsáveis pela gestão das plataformas informáticas de catalogação.