Psicologia e Intimidade do Feminino | Conversas Sobre o Retrato #4, com Bruno Marques (online)

 

Psicologia e Intimidade do Feminino, por Bruno Marques

Conversas Sobre o Retrato #4, MNAC (online)

 

No âmbito da exposição “Dilema de ser e parecer. O retrato na pintura, fotografia e escultura (1850-1916)”, patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado até 18 de abril, Bruno Marques, investigador integrado do IHA no grupo CASt, participou no ciclo de conversas em torno do retrato que o museu organiza em parceria com o IHA, CETAPS, CIEBA e CEHUM.
A conversa, que se desenrolou no dia 19 de fevereiro com Nelson Ferreira, artista e professor de arte em Londres, encontra-se disponível online, aqui.

 

Sinopse
A presente apresentação aborda algumas pinturas em que o retratista mergulha na mundividência dos espaços íntimos do feminino. Através de uma viagem por uma curta galeria de imagens – da autoria de Veloso Salgado, de José Ferreira Chaves e de Columbano –, esboçamos uma aproximação ao Portugal fino-oitocentista no que à representação da esfera privada diz respeito.
Como partimos da “psicologização” do retrato que acompanha uma mudança social – com a ascensão da burguesia e o subsequente emburguesamento dos costumes – estamos irremediavelmente a contar a história mais decisiva da sociedade do século XIX. Ou seja, no quadro deste paradigma que se abre, a descrição da miríade dos factos do quotidiano é essencial para discernir os novos espaços de actuação, as novas posturas e sensibilidades que transformam o(s) lugar(es) tradicionalmente ocupado(s) pelas mulheres. É desse modo que uma geração de pintores envereda por um tratamento mais sóbrio e realista, ao qual se soma a habilidade para sugerir temperamentos, estados íntimos e atitudes mentais. Estas novas qualidades tornam-se particularmente evidentes nos retratos privados em que o pintor tinge os seus modelos com um sentido de imediatez e autenticidade que afasta toda a pompa e artificialidade dos esquemas de representação precedentes. Contrastando com as poses rígidas e hieráticas anteriores, a mulher agora surge mais descontraída e informal, ora compenetrada no deleite da leitura, ora captada na banalidade de uma cena tirada do quotidiano, ora pensativa na obscuridade de um interior íntimo e discreto, ora rodeada por sinais de sofisticação artística e literária, ao mesmo tempo que revela uma atitude confiante e alguma autonomia de carácter, o que sugere toda uma nova atenção e sensibilidade conferida à psicologia do feminino.